A Afrikkana dentro de você
A África é mãe de todos nós, o berço da humanidade. O continente com a maior quantidade de recursos naturais e os menores índices de desenvolvimento humano do planeta. Uma terra sub-julgada e detentora de sabedoria profunda, com muito a nos ensinar. Mas antes de aprender nós precisamos lembrar.
Lembrar da música Mama África, de Chico César, que fala sobre o legado dos colonizadores no mundo moderno. Lembrar porque parece que o nosso povo esqueceu. Esqueceu da diáspora Africana. Esqueceu da história da gente que construiu esse país verde e amarelo, com as mãos calejadas e a carne violentada. Esqueceu porque era conveniente esquecer. Esqueceu porque se não esquecesse não dormia mais.
Você sabia que a cada 100 pessoas que chegavam em embarcações portuguesas para criar o “Novo Mundo”, 86 eram escravos negros? Negros e pardos são maioria no Brasil até hoje! São as etnias que deram origem à essa nação. Foi através das mãos e do árduo trabalho desses nossos antepassados que o nosso país se ergueu. A ordem e o progresso custaram sofrimentos e injustiças incalculáveis, e por mais que as coisas possam mudar carregaremos para sempre essa dívida histórica com os povos de origem africana.
O Brasil existe por mãos africanas, como tantas outras nações.
Entretanto, essa dívida não precisa ser encarada de uma forma pesada e nem tirar o sono de ninguém. A estratégia mais comum é “deixar pra lá”, mas enquanto a dor for ignorada ou esquecida ela se mantém presente, porque para superá-la é necessário compreendê-la. Essa dor existiu, e ela continua se manifestando até hoje através do preconceito justamente por não ser encarada na sua inteireza.
A maioria das pessoas faz associações inconscientes do continente africano com animais de desenhos animados, com gente morrendo de AIDs e lutando guerras sem sentido. O sentimento de pena bem intencionada que essas imagens popularizadas pela mídia despertam acabam nos distanciando dessa história de uma forma profunda. Isso porque a pena pressupõe um senso de desigualdade, e quando há desigualdade não há troca.
Contemplar os valiosos aprendizados que Mama África sempre teve a nos ensinar faz romper com esse bloqueio.
Resgatar a nossa ancestralidade é relembrar daquilo que nos une.
Eu acredito que a união nunca foi tão necessária quanto na nossa era, e por isso escreverei aqui no Blog com a intenção de compartilhar aprendizados daquilo que vivi no velho continente.
Há cerca de um milhão de anos os nossos primeiros ancestrais deixaram a África para povoar outras regiões do planeta, carregando os primeiros traços culturais que deram origem ao mundo globalizado de hoje. Em algum ponto dessa história, os conhecimentos ancestrais de respeito à natureza, cooperação social e qualidade de presença ficaram para trás. A Afrikkana nasceu para fazer do ritual de auto-cuidado diário uma celebração que honre e consagre essas sabedorias.
Mama África ainda tem muito a nos ensinar. Saravá!